sábado, 14 de maio de 2011

Apesar de condenado, criminoso nazista sai livre de tribunal na Alemanha

Alemanha | 12.05.2011


John Demjanjuk era guarda voluntário do campo de Sobibor, na Polônia. Ex-prisioneiro de guerra dos nazistas, Demjanjuk foi condenado pelo genocídio de 28 mil judeus, mas não ficará preso devido à idade.

Sessenta e seis anos depois do fim da Segunda Guerra, o Tribunal de Munique julgou talvez o último criminoso de guerra nazista. Nesta quinta-feira (12/05), John Demjanjuk foi condenado a cinco anos de prisão por ter participado ativamente do genocídio de pelo menos 28 mil judeus.
Aos 91 anos, Demjanjuk ouviu o veredicto sentado em sua cadeira de rodas. Ao fim da sessão, no entanto, o réu deixou o tribunal como um homem livre. O juiz Ralph Alt suspendeu a execução da pena. Além da idade avançada, o juiz levou em consideração os dois anos anteriores ao julgamento, em que Demjanjuk esteve preso.
O julgamento se arrasta desde 2009, ano em que o réu foi deportado dos Estados Unidos, a pedido da Alemanha. A Promotoria Pública havia pedido seis anos de condenação, mas outros promotores esperavam obter até 15 anos de pena.
Guarda voluntário
Segundo a Justiça alemã, o condenado trabalhou como guarda voluntário no campo de concentração de Sobibor, na Polônia, entre março e setembro de 1943. No local, todos os auxiliares das forças nazistas participavam da rotina de extermínio no campo de concentração, argumentou o juiz à frente do caso, Ralph Alt. Os voluntários recebiam os judeus que chegavam ao campo de concentração, faziam a vigilância e os conduziam à câmara de gás.
Ralph também mencionou que os voluntários tratavam de seguir todas as recomendações feitas pelos homens da SS nazista. Sem esses auxiliares, a execução de judeus seria irrealizável, afirmou o juiz. Em Sobibor, para cada 20 guardas nazistas da SS, existiam 150 voluntários.
Ulrisch Busch, advogado de Demjanjuk, alegou por sua vez a inocência do réu, afirmando que não era possível "constatar a culpa individual com base nos documentos existentes". Segundo Busch, o acusado, um ex-soldado soviético, não foi guarda voluntariamente. Como prisioneiro de guerra dos nazistas, ele assumiu a função para salvar sua própria vida, afirmou o advogado.
Histórico de guerra
Memorial no campo de Sobibor, na PolôniaBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Memorial no campo de Sobibor, na PolôniaNascido em Kiev, na Ucrânia, John Demjanuk passou a servir o então Exército soviético em 1941 e, no ano seguinte, foi capturado como prisioneiro de guerra pelos alemães. Nessa condição, o ucraniano teria trabalhado como guarda em Sobibor, na Polônia, onde cerca de 250 mil judeus foram executados.
Com o fim da Segunda Guerra, Demjanjuk mudou-se para os Estados Unidos no início dos anos 1950. Ele foi naturalizado norte-americano em 1958 e exerceu nos EUA a profissão de engenheiro mecânico.
Ele perdeu a cidadania em 1981, quando foi extraditado para Israel por ter sido confundido com outro guarda que atuava em Treblinka, conhecido como Ivan, o Terrível. No país chegou a ser condenado à pena de morte, mas foi absolvido depois que ficou provado o equívoco.
Em 1993, Demjanjuk retornou aos Estados Unidos, mas teve problemas com a Justiça norte-americana, perdendo novamente sua cidadania. Ele foi acusado de ter trabalhado como guarda nazista em três campos de concentração e de ter escondido o fato às autoridades dos EUA. Somente em 2005, Demjanjuk recebeu a ordem de deportação.
Em território alemão
A Justiça alemã conseguiu formalizar um processo contra Jonh Demjanjuk em 2009, apesar das tentativas do acusado de lutar contra a deportação, sob o argumento de que isso teria ocorrido ilegalmente.
Demjanjuk negou qualquer participação no Holocausto e, durante o julgamento, ameaçou fazer greve de fome, caso a Justiça não o autorizasse a apresentar documentos da polícia secreta soviética, KGB, que poderiam inocentá-lo.
O Ministério público baseou a acusação no depoimento do único sobrevivente do campo de Sobibor, Jules Schelvis, e também num cartão de identidade de guarda com a foto de Demjanjuk, de 1942.
Esse foi o primeiro julgamento conduzido num tribunal alemão que condenou um prisioneiro dos nazistas instruído para trabalhar num campo de concentração. O processo foi realizado na Alemanha, porque John Demjanjuk teria trabalhado no país como motorista, logo após a Segunda Guerra.
Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15070148,00.html

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Propaganda Nazista
O Triunfo da Vontade


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A reunião anual do NSDAP (Partido nacional-socialista alemão) realizada em 1934 revelou-se extraordinária não pelo acontecimento em si, porque os nazistas já haviam feito outros colossais comícios de massas, mas pela excelência do documentário que a registrou. Pode-se dizer que Der Triumph des Willens (O triunfo da vontade, seu título), dirigido e montado por Leni Riefenstahl, ficou sendo uma das poucas coisas que, no que se refere à estética moderna, perdurou daquele triste regime.

O Nazismo e a Propaganda


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O Rienzi de Wagner inspirou Hitler

Desde que quando era bem jovem, tentando inutilmente afirmar-se como um artista e como pintor em Viena e em Linz, Hitler assistira várias vezes a Rienzi, ópera de Richard Wagner, de quem se dizia admirador e fiel discípulo, deixando-se tocar para sempre pela grandiosidade da cenografia do mestre da música alemã. Justamente por este seu passado vinculado às belas tintas e ao gosto pela música grandiloqüente é que a Reichswehr, o exército alemão, o incumbiu de tarefas propagandísticas no conturbado período do após I Guerra, na Alemanha, contratando-o para neutralizar a ascendência comunista e pró-bolcheviques das tropas. Mal ingressando no NSDAP (National-sozialistische Arbeiten Partei) em 1919, o caudilho nazista procurou inspirar-se no princípio da arte total wagneriana aplicando-a no terreno da política de massas, encenando todas as suas aparições públicas de orador do partido como se fosse a entrada de um célebre tenor nos palcos de um teatro.

O Ministério da Propaganda


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Um fervor fanático

Hitler preocupava-se com os mínimos detalhes para dar às circunstâncias que o envolviam um ar de tragédia heróica e romântica, inspirada geralmente na mitologia guerreira nórdica, onde todas as atenções se encontram na figura mítica que se apresenta frente ao seu povo. Não havia nisso nenhum sutileza. Chamou isso de propaganda mesmo e nunca tentou esconder esse procedimento de ninguém. Tão importante ela se fez para o novo regime que ascendera ao poder na Alemanha de Weimar, em janeiro de 1933, que uma das medidas mais imediatas foi a criação de um Ministério da Propaganda, entregando sua direção ao doutor Joseph Goebbels. Num regime que se assumia como absoluto, total, todos espaços que dali por diante circundavam os cidadãos, nas ruas, nos edifícios, no estádios, os prédios público e privados, nas fábricas e nas escolas, tudo o que fosse impresso ou que circulava no ar, deveria ser preenchido pelas mensagens, slogans e símbolos do partido nazista e do seu guia Adolf Hitler.

Na Estrada do Triunfo


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Leni com milicianos

O Führer, que tudo supervisionava, não gostara dos documentários feitos pela gente do partido. Pareceram-lhe improvisados, toscos, coisa de amadores. No governo, a situação era outra. Poderia contar com os enormes recursos do Estado alemão, agora dominado por ele e por seus seguidores. Foi assim que ao encontrar-se com Leni Riefenstahl indicou-a como a sua cineasta de confiança. Artista famosa por atuar em filmes de montanha, o primeiro deles dirigido por ela em 1932, Leni daria um toque de profissionalismo e talento ao filme documentário político alemão. Para ela, foi uma questão de transferir a imensidão silenciosa dos Alpes, onde gostava de filmar e aparecer em todo o tipo de situação, para as colossais e barulhentas concentrações de massa organizadas pelo partido nazista. Deslocar o alvo da câmera dos cimos elevados e baixá-la para a planície onde se reuniam as multidões, mantendo sempre o seu aspecto espetacular, magnificente.

Artigo publicado pelo site: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/propaganda.htm

Sendo a ele pertencente, todos os créditos pelo artigo e fotos, estado neste blog para o conhecimento dos meus alunos.

Entre os 10.000 homossexuais deportados pelo regime nazista, um sobrevive: Rudolf Brazda conta sua experiência

Triângulo Rosa
Simbolo dos Homoxessuais na Alemanha Nazista.
Esta materia foi publicada no enderço http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/leituras-cruzadas/5111/ sendo todos os direitos e créditos Pertencentes a REVISTA VEJA. Foi postada neste blog para conhecimento dos meus alunos sobre a sociedade nazista.

" Muito se fala sobre a perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial, mas o sofrimento de outros grupos visados pelos nazistas, como os gays, ainda pode, e deve, ser mais bem narrado. Triângulo Rosa – Um Homossexual no Campo de Concentração Nazista (Mescla Editorial, tradução de Ângela Cristina Salgueiro Marques, 184 páginas, 48,90 reais), livro lançado nesta semana no Brasil – primeiro país estrangeiro a lançar uma tradução – é um esforço neste sentido. Ele conta a história de Rudolf Brazda, único sobrevivente entre os 10.000 homossexuais deportados pela ditadura de Adolf Hitler.

Rudolf Brazda se descobriu homossexual muito jovem. Antes dos 10 anos de idade, seus amigos já comentavam que era afeminado. Quando adolescente, mostrou ser um verdadeiro pé de valsa. As garotas disputavam entre si para ser seu par na pista de dança. Não eram poucas as vezes em que elas tentavam ir mais longe, mas ele não correspondia. Estava claro que preferia os garotos. Filho de pais checos, livres de qualquer tipo de preconceitos, Brazda não teve problemas ao levar seu primeiro grande amor para conhecê-los. Manteve um relacionamento sério com Werner de 1933 a 1936, quando o companheiro foi convocado para o serviço militar. Eles não se veriam mais. Depois dele, porém, vieram outros amores.

Nascido no vilarejo de Brossen, perto Leipzig, na Alemanha, em 23 de junho de 1913, Brazda tinha apenas 20 anos quando os nazistas tomaram o poder. Especialmente em 1935, a legislação contra os homossexuais foi endurecida pelo regime. Os termos do parágrafo 175 do código penal foram reforçados: “A luxúria contra o que é natural, realizada entre pessoas do sexo masculino ou entre homem e animal é passível de prisão e pode também acarretar a perda de direitos civis”. Todos os gays passaram a ser cadastrados na Central do II Reich, com o objetivo claro da repressão. As estimativas da época apontam que cerca de 100.000 pessoas foram fichadas, entre elas Brazda e seus amigos.

Ele foi condenado pela primeira vez em 1937. Passou seis meses na prisão e acabou expulso da Alemanha. Esperava retomar a vida na Tchecoslováquia, mas, em 1938, o regime de Hitler atravessou o seu caminho mais uma vez. Com a anexação da província dos Sudetos pelos nazistas – onde fica a cidade onde morava, Karlsbad -, as leis alemãs passaram a ser aplicadas ali com o mesmo rigor. Em pouco tempo, Brazda foi preso novamente e condenado a 14 meses de prisão. Embora tenha cumprido a pena integralmente, não chegou a ser libertado. No auge do regime de Hitler, os campos de concentração se propagaram: abrigariam também prisioneiros de guerra, comunistas, social-democratas, judeus, testemunhas de Jeová, ciganos e homossexuais.

Mais um triângulo rosa - Em 8 de agosto de 1942, Brazda foi mandado para o campo de Buchenwald. Identificado com o símbolo de um triângulo rosa, afixado em sua roupa, Brazda era apenas mais um entre os 10.000 gays deportados para campos de concentração durante a II Guerra. Durante três anos, vivenciou todo tipo de atrocidade. A humilhação começava logo que os prisioneiros chegavam ao local, pois todos eram despidos para inspeção. Brazda, particularmente, ainda participou de uma briga feia com um SS. Levou um tapa no rosto depois de ter lhe respondido de maneira insolente e perdeu três dentes.

Sempre otimista, Brazda conta que, apesar de tudo, sua passagem pelo campo poderia ter sido pior. “Outros foram ainda mais prejudicados. Eu ao menos podia trabalhar. Eles me deixavam relativamente tranquilo, só era necessário prestar atenção para não me fazer notar pelos SS”, diz lenta e pausadamente, em entrevista por telefone ao site de VEJA. “Testemunhei diversos tipos de violência contra outros prisioneiros. Foram coisas que não me machucaram fisicamente, mas que me marcaram de forma profunda”, acrescenta. Brazda foi libertado em 11 de abril de 1945, quando fixou residência na França.

Para manter o sorriso no rosto, ele se recorda principalmente das fases felizes de sua vida, ou seja, antes de ser preso pela primeira vez e depois do período em que esteve no campo de concentração. Após nova pausa para reflexão, Brazda conclui que o melhor período foi aquele em que viveu com seu último companheiro, Eddi. Eles se conheceram em 1950 e a partir 1959 passaram a morar juntos na França. “Tínhamos uma boa vida, trabalhávamos. Éramos livres e podíamos nos deslocar como quiséssemos”, lembra. Permaneceram juntos por quase meio século – Eddi morreu em 2003. Hoje, aos 97 anos, Brazda é o último sobrevivente entre os homossexuais deportados pelos nazistas. Crente em Deus, ele define sua passagem no mundo como “plena”.

A reconstrução da história - Assumindo o papel de confidente de Brazda, o pesquisador e militante dos direitos dos homossexuais Jean-Luc Schwab pôde transformar seus depoimentos no livro Triângulo Rosa. Coincidentemente, havia entrado em 2008 para uma associação dedicada ao reconhecimento desse tipo de deportados na França quando descobriu que o último sobrevivente morava bem perto dele, na região de Mulhouse, na França. Para recompor a trajetória do personagem, Schwab recorreu a centenas de horas de entrevistas com diferentes fontes, pesquisas pessoais em arquivos alemães, checos e franceses e viagens aos antigos lugares ligados à vida e ao confinamento do biografado.

Leia a seguir trechos da entrevista com o co-autor Jean-Luc Schwab:

Rudolf Brazda ao 98 anos de idade.

Como o senhor tomou conhecimento da história de Brazda? Ouvi falar de Rudolf num jornal local francês, em 2008. Pouco antes, havíamos inaugurado em Berlim o memorial às vítimas homossexuais do nazismo (Homosexuellen-Denkmal), em 27 de maio. Na inauguração, lamentamos que não havia um só sobrevivente para ver o monumento. Ao saber do fato pela TV, Rudolf – que até então achava que sua história não interessava a ninguém – resolveu avisar que estava vivo. Ele não se dava conta do valor histórico de seu testemunho. No fim de junho, então, ele foi convidado para o Gay Pride na Alemanha, e foi feita uma nova cerimônia em homenagem ao memorial, desta vez com uma das vítimas presente. Depois disso, a notícia se espalhou pelos meios de comunicação internacionais.

De que forma o senhor pôde coletar material histórico suficiente para a escritura do livro? Quando fui visitar Rudolf pela primeira vez, me dei conta de que sua história não tinha sido documentada. Então, comecei a entrevistá-lo, para recolher seu testemunho verbal ao menos, e depois gravar os depoimentos em vídeo. Na época, ele estava com 95 anos. E, quando se pede a alguém dessa idade para falar de algo que ocorreu há mais de 60 anos, as lembranças não são muito claras. Então, foi importante verificar nos arquivos se os fatos históricos correspondiam àquilo que ele dizia. Isso nos permitiu descobrir alguns pontos de que ele se esqueceu e precisar outros citados por ele, especialmente algumas datas.

Como nazistas faziam para descobrir quem era ou não era homossexual? No caso de Rudolf, seu nome foi evocado por seus amigos. Não tive acesso a arquivos de outras pessoas, mas, de uma forma geral, quando havia uma denúncia de homossexualidade, era aberto um inquérito policial e, depois disso, bastava provar que o acusado de fato teve relações “contra a natureza” com uma ou mais pessoas. Nesses inquéritos, faziam de tudo para descobrir o máximo possível de nomes envolvidos, para começar novas investigações e assim por diante.

Depois de tanta conversa, surgiu uma amizade entre o senhor e Brazda? No início, não passava de uma relação entre pesquisador e sujeito de estudo. Hoje em dia, me tornei um amigo e confidente. Eu o ajudo no cotidiano, como para preencher documentos ou garantir o contato com seus médicos e enfermeiros. Passo em sua casa frequentemente para visitá-lo, mas não mais para fazer perguntas. De um ano para cá, sua memória vem se desgastando. É bom saber que sua história pôde ser eternizada.

Cecília Araújo"

Campo de concentração de Buchenwald, no leste da Alemanha.

Visite também o endereço: http://www.bodocongo.com/2011/04/o-ultimo-triangulo-rosa.html